Perguntaram-me sobre essa polêmica da "cura gay" e se realmente é possível a reversão da homossexualidade para a heterossexualidade.
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Assunto espinhoso e complexo. Vou tentar nesse espaço algumas considerações, devo admitir que não se encerra o assunto e que há varias exceções a regra.
Segundo li pela imprensa o projeto do deputado visa retirar do Código Profissional dos Psicólogos, Normativo do Conselho Federal de Psicologia, o parágrafo que diz que é vedado ao psicólogo tratar a homossexualidade como doença com a intenção de reversão da orientação sexual. No meu entender, cabe aos Conselhos de Psicologia legislar sobre sua própria profissão e não um legislador que não conhece a ciência psicológica. Para os psicólogos e psiquiatras a homossexualidade não é doença e, portanto não pode e nem precisa ser tratada. Para ser doença necessita ter um agente causador e nós entendemos que o desejo e amor pelo mesmo sexo é uma condição humana e não fruto de traumas, conflitos, aprendizagem, contaminação. A ciência não tem outra resposta a esta questão. Alguns estudos foram feitos, mas nenhum deles chegaram a uma conclusão definitiva. Sabemos, no entanto, que sempre existiu na espécie humana e é comum em outros animais. Isso não quer dizer que o homossexual não possa ser tratado em suas angustias, por ser discriminado, perseguido por uma sociedade que ainda é homofóbica. Tratado por não saber lidar com um sentimento e desejo cheio de segredos e proibições. Além de que, como humano que é também traz seus problemas de família e emocionais. Não por ser por amar o mesmo sexo e sim por ser um ser humano...simples assim.
No trabalho clínico encontro pessoas que vem de terapeutas (não psicólogos), que praticam o atendimento terapêutico em instituições religiosas e consultórios não registrados e reconhecidos por entidades de classe. Esses profissionais, se é que podemos assim os chamar, prometem a reversão da orientação sexual, e alguns utilizam de práticas que tendem a aumentar a repressão, o recalque desse desejo. O paciente, com uma força repressora maior consegue não externar o desejo, é estimulado a casar-se o mais rápido possível com o intuito de aprender a desejar e a amar o ser do sexo oposto. Em todos esses 29 anos de profissão não conhecem um caso de sucesso efetivo. Não estou querendo dizer que não existe, apenas não conheço.
Aparecem na clínica pessoas mais conflitadas, com sérios sintomas psicossomáticos, deprimidas ou vivendo vidas escondidas e, dessa forma, aumentando o risco de contaminações e sofrimento familiar e conjugal. Nas atividades sociais aparentam heterossexuais com família e filhos e via de regra, discursos homofóbicos, mas frequentam ambientes escondidos para expressar seus desejos. Afinal não podem admitir a homossexualidade nos outros por saber que algo dentro delas está preso e necessita constantemente ser amordaçado.
Há situações específicas de alterações dos desejos. Adolescentes que ainda são ambivalentes e que o desejo bissexual se manifesta e após algumas experiências homoeróticas, preferem a heterossexualidade. Esses ambivalentes não são homossexuais. A imaturidade sexual própria da idade não permitiu uma percepção clara de seus sentimentos e desejos. Diferente do adolescente que desde sempre se percebeu atraído pelo mesmo sexo.
Há casos de pessoas bissexuais que podem viver uma época homossexual e outra heterossexual.
Há casos de pessoas abusadas sexualmente na infância que trazem conflitos em sua orientação sexual. Neste caso, não se trata para a reversão da orientação e sim trabalhar as dores emocionais que o evento traumático propiciou. O que a definirá como homo ou heterossexual cabe somente a ela e não ao profissional.
A sociedade deveria aprender a lidar com a diferença. Temos problemas muito mais sérios para resolver como, por exemplo, a fome, saúde, segurança do que preocuparmos com quem que as pessoas amam ou fazem sexo.
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